Programa: PMDB aparece como oposição e vítima mesmo ocupando 6 ministérios e dando sustentação ao governo Dilma

Dois dias depois de o PT sustentar em sua propaganda partidária que foi a crise internacional que colocou o Brasil no caminho do brejo, o PMDB vai ao ar na noite desta quinta-feira para trombetear o oposto: “Estamos vivendo momentos muitos difíceis, principalmente em função dos nossos próprios erros”, diz o vice-presidente da República Michel Temer no comercial de dez minutos que o PMDB exibirá em rede nacional (assista acima). 

Na abertura da peça, a apresentadora lê um libelo oposicionista. Afirma que 2015 foi embora sem que o governo definisse “uma direção firme a seguir.” E 2016 começa sob o signo do “desentendimento”. É como se o PMDB, no comando de meia dúzia de ministérios, quisesse virar a mesa sem tirar os cotovelos do tampo.
“Enquanto a economia desanda, continuamos desiludidos, duvidando de tudo e de todos”, prossegue a locutora. 

“O desemprego cresce sem parar. E vem de mãos dadas com a carestia. A combinação não poderia ser pior: as famílias perdendo a renda e os preços subindo.”
“Nem a banana é vendida mais a preço de banana”, tripudia o maior partido do conglomerado governista. “A verdade é que o brasileiro empobreceu, entristeceu e o país precisa reagir: já!” Como se ainda acreditasse no impeachment, o PMDB esboçou a saída. 


Temer fez pose de solução: “…Eu acredito que numa democracia o verdadeiro poder está no diálogo. E é através dele que nós vamos sair da crise mais fortes do que nunca. Pode acreditar.” Na sequência, o comercial do PMDB enfileirou depoimentos que a marquetagem da legenda preparou para acomodar Temer na antessala do gabinete presidencial.
“O Plano Temer —como o documento ‘Uma Ponte para o Futuro’ — é um exemplo da capacidade do partido de unir vozes e lideranças de vários setores”, diz o deputado federal Mauro Mariani. 

O documento mencionado é aquele que o partido divulgou no final do ano passado com um receituário liberal de superação da crise. Nele, anotou-se que o PMDB se dispõe a “buscar a união dos brasileiros de boa vontade.”
Não bastasse o Plano Temer, “vem aí […] o Plano Temer 2, que vai propor como manter e ainda ampliar os ganhos sociais”, informa o deputado Rodrigo Pacheco na propaganda do PMDB. E Temer: “O Brasil precisa de pacificação e consenso. Todos nós já sabemos os motivos.”
O vice-presidente falou como se já estivesse a caminho da poltrona de Dilma: “Tenho plena convicção de que é possível recobrar o ânimo, resgatar a confiança, e reabrir as portas para o crescimento. 

Cada um no seu lugar, mas todos juntos, temos que fazer um gesto, dar o passo que falta na direção do entendimento.”
Com esse linguajar, Temer evoluiu da condição de vice para a de vice-versa. Nos comerciais de tevê, estimula o impeachment. Na defesa que protocolou no Tribunal Superior Eleitoral, tenta evitar a cassação da chapa Dilma-Temer ecoando os argumentos do petismo e atacando o PSDB de Aécio Neves:
“Doação recebida e declarada de pessoa jurídica com capacidade contributiva, independentemente do que diga um delator, não é caixa dois. 

Até porque, como visto, o partido-autor [PSDB] foi agraciado com vultosas quantias das mesmas empresas, logo, não há mau uso da autoridade governamental pelos representados [Dilma e Temer].”
Estrelam também a propaganda do PMDB dois dos mais ilustres investigados da Lava Jato: os presidentes do Senado e da Câmara, Renan Calheiros e Eduardo Cunha. A presença de ambos como que anula todo o esforço do partido para apresentar-se como solução. Considerando-se o que a dupla fez nos verões passados, pode-se afirmar que o PMDB é parte do problema.

*Por Josias de Souza
Postado em 25 de fevereiro de 2016