Em discurso de despedida, Jarbas diz que Brasil vive ‘filme de terror’

BRASÍLIA – Um dos mais ácidos críticos do governo, dissidente do aliado PMDB, o senador Jarbas Vasconcelos (PE), fez na tarde desta segunda-feira um discurso de despedida do Senado com duros ataques ao governo do PT e aos escândalos de corrupção. Ele disse que não se considera um pessimista, mas ao invés do “País das Maravilhas” da propaganda governamental, o cenário atual está mais para um filme de terror, daquele no qual o monstro mata todos os mocinhos. E o filme ganha uma, duas, três sequências. Jarbas troca a tribuna do Senado pela tribuna da Câmara dos Deputados, na próxima legislatura , de onde deve continuar integrando o grupo que faz a mais dura oposição ao governo. 

 No longo discurso, com apartes de apoio de outros senadores que integram o grupo dos independentes, Jarbas disse que aa política perdeu com a degradação dos governos do PT, que deixou de lado a ética que professava quando estava na oposição para lutar pela permanência no poder usando todas as armas que estiverem ao seu alcance. 

Para o peemedebista, os escândalos de corrupção se multiplicaram, passando a fazer parte da paisagem cotidiana; a fragmentação partidária atingiu números alarmantes e, mesmo com as punições do Supremo Tribunal Federal (STF) aos líderes do “mensalão”, o crime parece que realmente compensa.

Lembrando a pequena margem de votos que levou a derrota do candidato da oposição Aécio Neves (PSDB-MG), Jarbas disse que a maioria – nulos, brancos e ausentes – não aprovou esse governo da presidente Dilma Rousseff. Para ele, a presidente não tem condições de implantar as mudanças que o Brasil precisa. Sobre o esquema de desvios na Petrobras, o peemedebista disse que o que fizeram com a maior estatal do Brasil, um dos maiores escândalos do mundo, com cifras bilionárias, é um crime de lesa-pátria.

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— Vai demorar anos para a empresa retomar a tranquilidade necessária para enfrentar os desafios que não são apenas dela, mas que envolvem o nosso próprio futuro como Nação. 


Mesmo na oposição, nunca me comportei pela máxima do “quanto pior, melhor”. Tenho responsabilidades para com Pernambuco e para com o Brasil. Mas me nego a concordar com essa flexibilidade ética que o PT busca implantar no Brasil, de que o mesmo erro pode ser repetido pela enésima vez, sem consequência alguma — disse Jarbas.

Jarbas criticou a intenção do governo e do PT de fazer uma reforma política de “faz de conta”, que foi prometida pelo ex-presidente Lula e por Dilma, e nunca feita. 


 — A palavra mágica agora é “plebiscito”, indicando claramente que o PT pretende implantar o modelo “bolivariano”, já em funcionamento em países como Venezuela, Equador e Bolívia. Esse modelo, Senhor Presidente, começa justamente tentando esvaziar o poder da democracia representativa da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, e, paralelamente, busca coibir a liberdade da Imprensa. As comemorações pela vitória apertada da Presidente da República foram marcadas por ataques aos meios de comunicação, um setor que ainda resiste, felizmente, ao “modo petista” de governar — disse Jarbas.

 Conteúdo O Globo
Postado em 1 de dezembro de 2014