Bolsa Família preocupa, diz analista

Uma das grandes vitrines do PT
nas campanhas eleitorais que elegeram Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma
Rousseff para a Presidência da República, o Programa Bolsa Família poderá
deixar de ser um patrimônio político nas eleições gerais deste ano e se tornar
um problema a ser administrado pelos petistas. A análise é do presidente do
Instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, em entrevista exclusiva ao Broadcast
Político, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, com base em
recentes pesquisas qualitativas realizadas por seu instituto.
O levantamentos detectaram um
desgaste e o crescente aumento das críticas dos setores emergentes da classe
média com relação a este programa do governo federal. “O Bolsa Família
envelheceu, não pode mais ser usado como o grande carro-chefe das campanhas
petistas. E as críticas não são apenas da classe média conservadora, mas estão
vindo especialmente da chamada nova classe C, justamente aquela que ascendeu na
gestão do PT”, destaca Coimbra.

Segundo ele, os cidadãos da
chamada nova classe C, que congrega um contingente estimado em 40 milhões de
pessoas – um número não muito distante do total de 47,6 milhões de votos que
Dilma teve no primeiro turno das eleições gerais de 2010 -, têm demonstrado em
suas críticas ao Bolsa Família que não estão mais identificados com este tipo
de benefício, que se tornou um símbolo do que eles não são mais, pois
ascenderam socialmente com seus próprios méritos e agora não querem mais compactuar
com os que ainda se escoram nas benesses governamentais. “Esses cidadãos alegam
que pagam seus impostos, enquanto outros recebem as benesses do governo, por
isso não querem mais ser identificados com os que ainda dependem do programa
para sobreviver”, explicou.
Coimbra disse que mais grave do
que o desgaste de um programa que já foi o grande trunfo eleitoral do PT e que,
inclusive, gerou em campanhas passadas grandes disputas pela paternidade dessa
ação, sobretudo por parte do PSDB, é a ausência de um posicionamento do atual
governo com relação a eventuais avanços nessa ação social. Ele avalia que, sem
um discurso contundente e positivo em defesa do Bolsa Família, o programa
poderá ser considerado equivocado. “Algo que seria impensável nas campanhas passadas,
mas com as mudanças econômicas e os avanços sociais para os menos favorecidos,
o programa tornou-se obsoleto para a classe emergente.”

O cientista político e professor
de administração pública da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, Marco Antônio
Carvalho Teixeira, diz que, em termos de lógica eleitoral, é preocupante a
avaliação do presidente do Instituto Vox Populi sobre o Bolsa Família. “Isso
acende mais um sinal amarelo para a campanha da presidente Dilma Rousseff e
também poderá forçar a oposição a mudar o seu discurso com relação a este
benefício, pois ele era um símbolo praticamente intocado”, afirma. “Os
opositores do PT tinham receio de criticá-lo. O máximo que faziam, inclusive
nesta pré-campanha, com os presidenciáveis Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos
(PSB), é dizer que vão aprimorá-lo, mas sem explicar como”.


Da Tribuna do Norte
Postado em 2 de março de 2014